O brinquedos que brincou, as gírias que usava, os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra!
A saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, o que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora!
O abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda!
A raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, é aquele que rema, que cansado não desiste, é a indignação com o lixo jogado na rua, a ardência da revolta, você é o que você queima!
O que reivindica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia!
Não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê!
Martha Medeiros
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